quinta-feira, 5 de novembro de 2020
[109] "A cor do tempo", livro de Ricardo Jorge Claudino – ou o tempo como cor e objecto de memórias
Com chancela da editora Cordel d'Prata e saído por ocasião da Feira do Livro deste ano, o livro de poemas "A Cor do Tempo" de Ricardo Jorge Claudino revela-se obra madura e reflectida, não obstante ser o primeiro de sua autoria – o que não surpreende, pois este jovem farense com fortes ligações ao Alentejo não é propriamente um novato no meio, tendo já vasto material divulgado em revistas da especialidade e jornais regionais, em experiências que datam da adolescência e agora frutificaram.
São seis dezenas de trabalhos de temática diversa, onde se nota forte componente pessoal de memórias de momentos ou assuntos vividos. Disso são exemplo, entre muitos outros, poemas como "Casa no campo", "sinónimo de paz e do cante dos passarinhos", "As oliveiras falam", com suas "palavras sábias", "Teatro infantil", relembrando os cheiros e as cores do pó de palco pisado anos atrás, "Amesterdão e eu", de acolhedora e absorvente temporada profissional ou "Soneto imperdoável" em que recorda os "frajais" (ferragiais) semeados pelo avô, evocando uma das muitas e saborosas corruptelas linguísticas em que a grande província do sul é farta. E já que de sonetos falamos, assinalemos os muito interessantes dois exemplos vigentes, este e "Soneto condenável", género poético assaz descurado nos tempos presentes que ele adoptou com sucesso. Também é de salientar "Escadaria", curioso trabalho de poesia visual, discreto e acertado.
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Ricardo Jorge Claudino |
Plenos de sabedoria e exaltantes de amor à escrita e à leitura, são os poemas "Livro aberto", nesse apelo que diz que "As palavras foram feitas / para serem ditas / e os livros para estarem / abertos" e "Quando o poeta morre", em que Claudino esclarece que quando o vate fenece não vai para o céu mas "ganha asas na terra [e] voa nas suas palavras".
É pois de reter este livro, perpassado por lirismo suave, tanto campesino como urbano, completado pelos desenhos de idêntica índole de Cristina Aurélio e Fernando Madeira, um dos quais serve de capa. Após a prometedora peça inicial, resta-nos aguardar com expectativa a continuidade da obra de Ricardo Jorge Claudino.
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