quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

[0018] Teresa Balté e um percevejo vienense... beneditino e avisador

TERESA BALTÉ, Lisboa, Portugal, 1942
Poetisa, pintora e docente universitária de Filologia Germânica, Teresa Balté estreou-se no mundo literário em 1967, com a publicação do livro de poemas "Estações". Para além de poesia, escreveu dois livros infantis, nomeadamente "A Abelha Zulmira" (1979) e "O País Azul" (1990). Em 2009, assinou o livro "Hein Semke – A Coragem de Ser Rosto", uma das obras biográficas mais completas dedicadas ao artista plástico alemão e seu falecido marido. Em Abril de 2018 realizou na galeria Perve (Lisboa) uma exposição antológica da sua obra pictórica.

PROVIDÊNCIA

Registo a noite de há cinco anos, a última em Viena,
passada na pensão dos monges beneditinos, no 1.º distrito, por sinal caríssima. Jantara com amigos e recolhera tarde ao quarto imaculado, de Bíblia na mesa-de-cabeceira e crucifixo na porta do roupeiro. Deitei-me. Ia apagar a luz quando o vi na parede. Miúdo ainda, mas inconfundível. O percevejo. Não pensei em matá-lo, haveria mais, provavelmente. Impossível deitar-me na cama, impossível dormir. Instalei-me na cadeira de madeira e, para manter-me vigilante, li no Antigo Testamento. Às quatro da manhã, fui arranjar-me. De ouvido atento, pois pedira que me despertassem às quatro horas. Até às quatro e vinte, o telefone não tocou. Peguei no saco de viagem e desci. Às quatro e trinta estava à porta do convento. O táxi que reservara na véspera, pontual, já chegara. E assim, graças ao percevejo, ainda vi o sol nascer sobre a cidade e não perdi o voo da TAP, para Lisboa.

9.7.2016

1 comentário:

  1. Quer dizer, há percevejos que vêm por bem. Ele há cada coincidência... O que fora perturbação e incómodo acabou por trocar as voltas ao que poderia ter sido um grande transtorno.
    Isto de percevejos faz-me lembrar que, em Moçambique, todas as semanas obrigava os meus 160 soldados da companhia de caçadores a trazer as camas de ferro para o ar livre a fim de serem desinfestadas dos percevejos que habilidosamente se infiltravam nos interstícios mais recônditos das engrenagens de ferro. O sargento mecânico e os seus rapazes ajudavam com petróleo e maçarico. Penso que isso só foi necessário nas primeiras semanas de lá termos chegado. O tratamento de choque surtiu efeito. Mas isso só se impôs porque os nossos antecessores no lugar devem ter feito um qualquer pacto de não-agressão com os bicharocos. O mesmo não fizeram com os tipos da FRELIMO.

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