sábado, 21 de maio de 2022

[0129] Dois textos de José Manuel Oliveira (1)

ACERCA DAS GUERRAS E DOS SALTOS NO TEMPO

Segundo está testemunhado, Frínico parece ter realizado “directos” no decurso das chamadas “Guerras Pérsicas”. Era amigo de Timóteo (446-357 a.C.) que como se devem recordar é considerado o primeiro poeta trágico, assim como de Eurípides, um verdadeiro intelectual de esquerda da mesma altura. Recordo-me vagamente de ter assistido a uma grande reportagem daquele no decurso das mesmas guerras, durante a qual o sol ficou literalmente encoberto devido ao número impressionante de flechas arremessadas de um lado e de outro, embora não me lembre de o ter visto nas televisões envergando a tarjeta «PRESS». Durante esse período, se bem me recordo, andava eu envolvido involuntariamente numa outra guerra nas imediações de Oríon, para ser mais preciso em Betelgeuse (cerca de 300 anos-luz da Terra) devido a um mal-entendido entre rigues e starmen, não me sendo de todo agradável ter de dialogar com uma espécie de santola, a qual de pé atinge o tamanho de uma porta, e com a qual apenas me posso entender através dos múltiplos movimentos dos seus tentáculos.

Mas agora era altura de vocês dizerem : “Que diabo, mas não és tu que dizes que não vês televisão??!...

Afirmativo, afirmativo, o que se passa é apenas isto: É que se estão a esquecer que quando vou almoçar fora, normalmente ao “À volta cá te espero”, mesmo que não queira, tenho perante mim todas aquelas degradantes imagens de uma “guerra”, ou melhor dizendo, de destruição, ruínas, explosões e chamas, e mais ainda toda aquela panóplia de entrevistas aos desgraçados que ainda por ali vão deambulando ao papel e às apalpadelas, imagens essas tão edificantes como devem calcular, para quem está a comer uns carapauzinhos fritos com açorda à mesa lá do canto...

Bem me esforço, porém não consigo vislumbrar Frínico de microfone em punho, com a tal tarjeta «PRESS» pregada no peito. Será que foi noutra guerra e eu já estou confundido? Mas como assim se ainda só vou no primeiro jarro de tinto?

Por vezes chego a pensar se desta vez não teria “saltado” para o século XIX do oeste americano, e se não estaria Frínico escondido por detrás de um poste, aguardando ansiosamente aquele célebre embate entre o Kirk Douglas e o Anthony Queen em “Gun Hill” ("O Último Comboio"). Sim, esse mesmo, no qual quando o comboio chega à estação imobilizando-se entre enorme suspense, o duelo torna-se inevitável (neste caso parece ter vencido a justiça, outros tempos...), já não me recordo lá muito bem, é que entretanto vou no segundo jarro e perdi a memória que certamente deve ter ido à casa de banho...

Prática: Penetrar num dólmen que pode ser “portal” para outro universo. Nem todos o são. Depois apenas temos de “apanhar” o estado mental adequado. 



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