
CTP não conseguiu obter em tempo oportuno o local e a data de nascimento do autor
Do escritor e livreiro José Antunes Ribeiro, “Contos da Tinta Permanente” recebeu (ainda a tempo) uma saborosa prenda natalícia para os seus leitores. Com agradecimentos, Boas Festas!
NAQUELE ANO, O MENINO JESUS NÃO DESCEU PELA CHAMINÉ
É do Natal da infância na aldeia que me lembro hoje. A lareira da casa dos pais onde a família se aquecia naqueles invernos muito frios. No tempo da inocência cheguei a acreditar que o Menino Jesus descia pela chaminé para deixar as prendas a todos os meninos. E, uma vez ou outra naqueles anos de grandes dificuldades, o Menino Jesus deixou-me as suas prendas. Coisas úteis: umas meias, uma camisola quente, uns sapatos para evitar o frio gelado do chão da estrada para a escola inundado de pedras, seixos, coisas assim...
Mas houve um ano em que o Menino Jesus se esqueceu da nossa casa. Ter-se-á enganado no caminho? A criança que eu era quando acordou pela manhã e foi a correr para a lareira para buscar as suas prendas deu-se conta que naquele ano o Menino Jesus se tinha esquecido da nossa casa. Disse à mãe da minha tristeza. E ela para me animar respondeu-me: "o Menino Jesus não conseguiu descer pela nossa chaminé porque vinha com tantos sacos de prendas que não conseguiu entrar...".
Naquele ano comecei a questionar-me sobre este e outros assuntos divinos. Mas, com Fé ou sem ela, o Natal é o tempo das crianças e da família. À volta da lareira ou à volta da mesa com o ritual do bacalhau com as couves e as batatas regado por bom azeite, das filhós ou filhoses como se dizia na minha terra, das prendas para as crianças, da missa do galo, das fogueiras, do presépio com o Menino Jesus, Maria e José, a vaca e o burro, as ovelhinhas, o musgo verde. Fantástico sempre o presépio das crianças! É por elas que o Natal continuará tão vivo como na casa da infância mesmo que as vozes familiares já não se façam ouvir ao longe.