sexta-feira, 30 de novembro de 2018

[0012] De novo Deodato Santos, desta feita "Guardador de gotas de água"

DEODATO SANTOS, Lagos, Portugal, 1939 
Na serra algarvia, o lacobrigense Deodato Santos molda as palavras com a mesma ousadia com que ataca e esculpe a dureza da pedra. 

A ousadia que o levou a desafiar o antigamente e a buscar no exílio a liberdade para manejar a palavra em consonância com o seu pensamento (e sentimento)

Sobre o escultor e escritor Deodato Santos, ver AQUI




O GUARDADOR DE GOTAS DE ÁGUA

Escultura de Deodato Santos
Nem todas foram especiais como aquelas vindas congeladas de um glaciar alpino, ou como aquelas recolhidas de um amanhecer de nevoeiro em Serpa, ou como aquela que deslizou pelo vidro que me separava do exterior quando sobre ele com um dedo fiz um traço horizontal.
A maior parte foram gotas vulgares.
Como aquela que emitiu sinais de luz - que se quisessem dizer alguma coisa apenas seriam compreendidas pela eternidade - do ponto exacto matemático que situava o centro do seu máximo instável equilíbrio esférico, a sua efémera rotundidade, a sua curta prenhez e o seu rápido parto.
As recolhi, as guardei.
As entregarei a um derradeiro viandante, desapaixonado plenipotenciário incumbido de enigmáticos desígnios.

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