TCHALÉ FIGUEIRA, Mindelo, São Vicente de Cabo Verde, 1953
De Cabo Verde, Tchalé Figueira envia-nos mais um conto tecido nas horas em que se liberta do seu cavalete e da sua pintura
OS MORTOS NÃO CHORAMDe Cabo Verde, Tchalé Figueira envia-nos mais um conto tecido nas horas em que se liberta do seu cavalete e da sua pintura
Já não tinha alfinetes para cravar na mente, foi à drogaria mais perto da sua casa e sem prescrição comprou duas garrafas de Bourbon falso feito de restos de pilhas de uma lixeira do bairro chineses. Tudo nele era descrédito e desolação, podia até beber urânio empobrecido, longe de alcançar aquilo que desejava. Tinha falhado em cinco matrimónios, tinha gasto milhares de dólares com psiquiatras e bruxos... bebeu incontáveis mixórdias e até esteve em Santo Antão, em Cabo Verde, umas ilhotas no meio do Atlântico, a 500 Km do continente africano, onde um famoso bruxo curava com pénis de tartaruga e grogue de arruda benzido pelo cardeal católico, a impotência.
Foto NG |
Com todo o peso do mundo em seu corpo, dormiu, pensando que estava sonhando viu o seu corpo numa pira ardendo. Não era sonho não! Aliviado soube que tinha morrido. Quis chorar, mas os mortos não choram.
Mais um conto interessante do Figueira.
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