quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

[0126] Encerramos o ano com mais um texto de Carlota de Barros

PERDÃO

in "Fragmentos", de Carlota de Barros

Gostava de escrever numa árvore centenária a palavra perdão. Há pessoas que nunca pedem perdão. Será que pensam que têm sempre a razão do seu lado?

Escreverei a palavra perdão lado a lado com a palavra amor e amizade. Deixarei também escrito que quem passar por essa árvore a acaricie, beije a palma das mãos com muita ternura e só depois continue o seu caminho.

Pelos caminhos por onde for passando gostaria de ver plantadas belas árvores onde também se escrevesse a palavra perdão, e de lançar sementes que viessem dar flores coloridas, risonhas, para alegrar as crianças que as colheriam para oferecer às mães, cansadas da lida, da vida e do sofrimento, e aos pais, cansados das preocupações do dia a dia, angustiados com um filho doente ou desparecido na flor da idade, bem como com o trabalho, com as injustiças e as dores do mundo.

Gostaria de, em silêncio, encontrar nos campos, no mar, no vento, nos rios, ribeiros e fontes, o perdão, a verdadeira grandeza a que se referiu o Papa Francisco, na sua Bênção Urbi et Orbi. O Papa escreveu e disse que não existe família perfeita, nem somos perfeitos. O perdão é vital para a nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual, disse o Papa Francisco. Sem o perdão, a família torna-se uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Quem não perdoa, adoece física e espiritualmente. A mágoa é um veneno que intoxica. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo.

Tudo o que o Papa nos transmite, na sua imensa bondade e sabedoria, é a verdade. O perdão traz alegria onde a mágoa produziu tristeza; cura onde a mágoa causou doença. Poderás então sorrir com os lábios, sorriso que se espelhe nos olhos que nada escondem.

Papa Francisco tem-me ajudado a reflectir muito e a continuar a partilhar muitos dos meus pensamentos com a minha família e meus amigos.

Comecei a escrever este texto há muito tempo e deixei-o a amadurecer até hoje, para ter a certeza que cumpriria também o que pensava e escrevia. Papa Francisco deu-me alento.

Hoje estou certa de que o Perdão liberta-nos da tristeza, da mágoa que amachuca o coração, e ajuda-nos a preservar a nossa sanidade mental, a recuperar a alegria de viver e de conviver, a vontade de viver e de expandir os nossos sentimentos, de dar graças por acordar, todas as manhãs.

Escreverei, sim, numa árvore centenária: “Perdão”. Peço à minha família e aos amigos que sigam este exemplo e cumpram o que Papa Francisco escreveu e disse na sua bênção de Natal.

Será Natal todos os dias, nos nossos corações. Um desejo que expresso, de coração e alma, a  todos que estiverem a ler este meu texto. Um presente que oferecemos a nós mesmos.

Cultivemos a arte de perdoar. Vestirei o perdão de azul e flores risonhas, de todas as espécies, até que role a última lágrima de tristeza. As dores do mundo, que guardo dentro da minha mente, parecer-me-ão mais ténues; incredulamente, o mundo vestir-se-á também de todos os tons de azul, sem tristezas ou mágoas.

Utopia? Poderão dizer, mas vamos tentando, pois que, enquanto tentamos cultivar o perdão, num mundo trajado de todos os tons de azul, iluminado por muitas luas, amenizamos o cérebro, desafogamos a mente das dores e das inquietações, até que role a última lágrima de mágoa, angústia ou sobressalto.

Papa Francisco é um sábio. Na sua sabedoria e imensa generosidade ajuda-nos a pensar nos males do mundo e dá-nos sinais de como remediar os que estejam ao nosso alcance.

Lisboa, 28 de Dezembro, de 2021



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