terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

[0048] José Batista de Queiroz, contos necessários

Do escritor brasileiro José Batista de Queiroz, recolhemos um conto que recorda a sua vida militar. É uma voz que nos chega do mundo lusófono, prometendo divulgar outros autores.


SAUDADE DE GRANADEIRO

Se a primavera é a estação mais alegre do tempo, hoje é o dia mais saudoso do ano. Mais uma vez aqui estamos reunidos, de coração humedecido de saudades, para juntos celebrarmos a união indissolúvel de homens que vestiram, no passado, o uniforme garboso do Batalhão da Guarda Presidencial. Mais uma vez, vamos palmilhar a estrada do tempo que nos leva ao passado, em busca daqueles momentos que tanto marcaram nossas vidas, e deixaram fortes lembranças enclausuradas em nossos corações. Hoje, vamos acordar as saudades adormecidas e repartir as alegrias esvoaçantes, que estão penduradas dentro de nós.
Quando ainda viviam o tempo doce de suas vidas, o dever os levou pra longe, longe de seus pais, de seus amores, de sua terra natal, rumo a Brasília, uma cidade que nascia resplandecente no coração do Brasil. O ponto de encontro de todos vocês foi o BGP, um Batalhão que deixou registrados, nos seus pensamentos, dias de saudade, uma saudade brejeira que, até hoje, continua viva, flutuando na alma de cada um.
Vocês se tornaram granadeiros e granadeiro é aquele que já traz dentro de si uma semente de amor ao Exército e ao Brasil, um amor em constante ebulição, iluminado e prateado por raios de sol. Assim são vocês e assim serão pela estrada do tempo, porque o peito de um granadeiro é a morada segura da virtude de um soldado. Seus exemplos são como raios luminosos, que irrigam e atravessam gerações, deixando sulcos na memória do tempo. Ser granadeiro é ter o espírito colorido de verde-amarelo, é ser um brasileiro de alma e coração, é viver um sonho para sempre.
Hoje, os corações aqui presentes têm cheiro de lembranças, lembrança do passo vagaroso do tempo, em que os acordes de um clarim interrompiam o sono repousante de vocês, anunciando o nascer de mais uma aurora. Era mais um dia de saudades, saudade do lar aconchegante, dos rostos suaves, dos momentos alegres, dos anos que não voltam mais. Era uma saudade que exprimia o peito e torturava a alma.
Vocês jamais se esquecerão das horas de sentinela, dentro ou fora de uma guarita, ouvindo o silêncio da noite, observando o céu semeado de estrelas, vendo a lua prateando a relva, ouvindo o vento rumorejando nas árvores, sentindo os ardores de um sol a pino, vendo o manto azul salpicado de nuvens brancas, contemplando o sol a beijar as serranias e o dia se afogar na noite. Eram momentos de meditação, de sono, de cansaço, de saudade. Como era lento o passo das madrugadas! Como seria bom se fosse possível acelerar o tempo! Mesmo na adversidade, você, granadeiro, pode ser comparado àquilo que, na memória dos homens, existe de mais heroico, de mais valente, de mais soldado.
Até hoje, vocês carregam as lembranças daquelas noites melancólicas passadas nos alojamentos, enfrentando uma epidemia de saudade e tristeza. Naquele tempo já empoeirado, mantinham acesa a esperança de retornar ao torrão natal e abraçar a família, os amigos e os amores. E hoje aqui estão e ainda guardam no peito as lembranças de uma vida de soldado e ainda cantam as canções militares que o tempo não apagou. O tempo não faz com as lembranças o mesmo que o vento faz com a poeira.  Hoje, podemos dar as mãos e cantar as canções alegres que, no passado, empolgaram a nossa alma de soldado, porque somos todos frutos da mesma árvore.
A saudade é um das palavras mais bonitas do dicionário e a emoção mais doce de nossa alma. Vamos em frente, granadeiros, porque os dias futuros nos aguardam, para nos saudar com mais alegrias, mais emoções, mais saudades. Ser granadeiro é ser a lembrança e o parceiro do tempo. O tempo caminha e nós caminhamos com ele. Obrigado Ibitinga, por nos acolher em seu regaço. Obrigado João Carlos, por nos proporcionar momentos alegres e saudosos como as primaveras. Obrigado Deus, por mais este encontro com a saudade.

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