Pepita Tristão |
Era uma vez uma linda menina de olhos cor do céu e longos cabelos louros que lhe escorriam pelos ombros em cachos de seda brilhante...
Era assim que começava a maior parte das histórias que minha avó me contava ao serão, fazendo-me sonhar com belas princesas e garbosos cavaleiros, sempre prontos a regatá-las de todos os perigos.
Para além da avó, também a minha querida Dadá, empregada de meus pais, me contava belas lendas de cariz popular. Mouras encantadas, almas penadas e tesouros escondidos, guardados por temíveis feras...
Claro que estas narrativas davam asas à minha imaginação, mergulhando-me num mundo onírico onde se viviam incríveis aventuras.
Mas não era a única a sonhar... contava-se na terra que certo indivíduo, cansado de ser pobre, decidiu quebrar um feitiço que diziam ocorrer junto à fonte de Pêro Boi, onde um rei mouro em fuga teria enterrado os seus tesouros.
Tencionando mandar recuperá-los mais tarde, e temendo ser roubado, o monarca transformou o seu vizir em touro, encarregando-o de guardar as riquezas que só deveria entregar a quem se aproximasse dele sem mostrar medo, numa noite de lua cheia.
Ora o nosso amigo já passara inúmeras vezes pela fonte, localizada numa quinta com o mesmo nome, onde, por coincidência, havia um touro bravo, sempre pronto a investir sobre quem se aproximasse, desprevenido,
Numa noite de lua cheia, o rapaz bebeu uns bagaços para lhe darem coragem e foi até à quinta de Pêro Boi, aproximando-se da fonte.
Quis o destino que o dito touro tivesse ido dessedentar-se a essa hora e, vendo que o homem se aproximava, invadindo os seus terrenos, investisse contra ele, não lhe dando sequer oportunidade de se arrepender da afoiteza.
Como resultado do embate, o destemido aventureiro foi parar ao hospital com várias costelas partidas. Se lá estava ou não o tesouro, nunca o soube e jurava nem querer mais saber, pois quando acordou do desmaio, apenas se recordava do bafo do monstro antes do impacto.
Dizia-se que só de ouvir falar do encanto, o desgraçado tremia de pânico.
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