Teresa Balté |
O Leão era um cachorrinho amarelo, que levava os dias a brincar. À noite dormia no chão, no quarto da dona. A Mariana pensava: Tenho de apressar-me a fazer-lhe a esteira, senão chega o Inverno e constipa-se. E foi à loja da tia buscar com que fazê-la.
A loja estava cheia de esteiras, alcofas, chapéus e de tiras de palha de muitas qualidades e tamanhos – umas tingidas, outra não. A um canto havia três feixes de tiras delgadas: verdes, roxas e cor de palha. A tia pegou num punhado de cada.
– Toma, Marianinha – disse, dando-lhe as tiras. – Vai entrançá-las. O Leão merece uma linda esteira.
A Mariana chegou a casa e meteu mãos à obra. Sentou-se no quintal, num banquinho baixo, e começou a dispor as tiras em grupos de três: uma verde, uma roxa, uma cor de palha… uma verde, uma roxa, uma cor de palha… Depois quis entrançá-las. Mas qual! Elas não deixavam. Puxava cada uma para seu lado. Não se misturavam. Como água e azeite, leite e limão.
– Nós somos as mais vistosas – diziam as verdes. – Não ligamos a ervas secas!
– Nós somos as mais importantes – diziam as roxas. – Os reis e os cardeais vestem-se de púrpura. Não nos damos com palhas vulgares!
– Nós somos as verdadeiras – diziam as outras. – Mostramo-nos tal como somos, sem pintura. Não nos misturamos com ninguém!
A Mariana bem queria entrançá-las, mas não conseguia. E acabou por arrumá-las a um canto; talvez um dia prestassem para alguma coisa.
E o Leão? O Leão não tinha culpa de nada e continuava a dormir no chão, no quarto da dona. Então a Mariana pensou: Quando chegar o Inverno, constipa-se; vou fazer-lhe um tapete de lã! Um tapete de lã, às florinhas, que lhe lembre o campo e o Verão!
Encantador... por vezes a arrogância demasiada é castigada. Ignoram-se e substituem-se
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